Autor: Jennie Li (Estrategista de Ações), Rebecca Nossig (Analista de Estratégia de Ações) e Fernando Ferreira (Estrategista Chefe e Head do Research)
05/06/2022 18:35:01 • Atualizado em 06/06/2022 09:07:54
Nessas horas, você já deve saber que a Bolsa brasileira está barata. Temos escrito muito sobre isso nos nossos últimos relatórios, e essa semana publicamos um Raio XP dedicado ao tema valuation da Bolsa brasileira.
Mas o Sunday XPresso hoje não vai falar sobre a Bolsa, mas sim da oportunidade que existe na renda fixa no Brasil atualmente. Já se antecipando e respondendo algumas perguntas principais:
1) É possível estar otimista com a bolsa e com a renda fixa ao mesmo tempo? Sim, é perfeitamente normal encontrar boas oportunidades nas duas classes de ativos.
2) A Selic ainda está subindo no Brasil, dá para ficar otimista com ativos na Renda Fixa? Sim, e vamos explicar o porquê.
Política Monetária – ciclo de alta da Selic próximo do fim?
Os juros no Brasil já estão altos, mas eles continuam em alta. O Banco Central brasileiro começou o aumento da taxa Selic em Março-2021, e desde então já elevou a taxa de 2,0% para 12,75% atualmente. Na última ata do Copom, o BC deixou claro a intenção de começar a desacelerar a alta da taxa Selic nas próximas reuniões.
Nossa equipe de economia, liderada por Caio Megale, espera que a taxa Selic suba até 13,75%. A nosso ver, esse patamar poderá ser alcançado com duas altas adicionais de 0,50pp em junho e agosto, ou com o Copom se convencendo a fazer uma alta adicional de 1,00 pp na próxima reunião para aumentar a probabilidade de convergência da inflação à meta (nosso cenário central).
Olhando para o médio prazo, esperamos que o patamar da Selic ao redor de 13,75% deve ser mantido por alguns meses para garantir o início da queda da inflação. Nossas simulações sugerem até o primeiro trimestre de 2023. A partir de então, com o Copom focando 2024, vemos espaço para uma normalização gradual de juros, até por volta do patamar que consideramos “de equilíbrio” – entre 7% e 8% – em meados de 2024.
O ciclo de alta das taxas de juros no Brasil pode estar próximo do fim, abrindo uma oportunidade para investidores na renda fixa: 1) juros no Brasil já estão entre os maiores do mundo, 2) a inflação no Brasil está alta, mas não está tão mais alta que no resto do mundo, 3) outros BCs no mundo estão subindo os juros, podendo ajudar a desacelerar a economia global, e a inflação como consequência, 4) o Brasil é uma economia já bastante endividada, o que reforça o caso de que os juros muito altos deveriam ser temporários, e não permanentes.
Juros no Brasil já estão altos em relação ao resto do mundo
Taxas de juros são preços relativos na economia. Juros altos fazem os investidores e empresas pouparem mais ao invés de investir, sobe o custo da dívida dos tomadores crédito e, dessa forma, desacelera a economia, baixando assim a inflação.
Mas é importante mencionar que juros também são preços relativos entre diferentes países, principalmente os juros de mercado, medidos pelos títulos dos governos. Hoje o Brasil tem uma das maiores taxas de juros no mundo, e isso atrai investidores externos, que investem nesses títulos em busca dessas altas taxas de retorno.
As taxas de juros nominais de um prazo de 5 anos mostram que as taxas no Brasil estão entre as maiores do mundo, e muito acima do nível dos países desenvolvidos, que seguem com taxas baixas.
Taxas de juros nominais (3 anos) – %
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O mesmo também é verdade para as taxas de juros em termos reais, onde o Brasil oferece uma das maiores taxas do mundo. Essas altas taxas atraem fluxos de investidores internacionais em busca dessas altas taxas de retorno.
Taxas de juros reais – %
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A inflação no Brasil não está tão maior que no resto do mundo
O Brasil tem um passado inflacionário, como todos sabem. Por isso, trazer a inflação para baixo tende a ser mais difícil por aqui, pois a economia é bastante indexada (salários, contratos, serviços). Mas comparando as taxas de inflação atuais no Brasil em relação ao resto do mundo, vemos que a inflação no Brasil não é tão distante
Além disso, a diferença entre a taxa básica de juros e a inflação atual no Brasil é muito menor que em outros países, principalmente nos países desenvolvidos na Europa e nos EUA, onde a diferença é muito grande, como vemos no gráfico abaixo.
Isso indica que o BC brasileiro se antecipou ao cenário inflacionário atual mais rapidamente, enquanto os BCs em outros países ainda estão no começo dessa jornada, e tem que aumentar as taxas significativamente ainda. Caso esses BCs tenham sucesso em trazer a inflação para baixo, isso pode ajudar a inflação “importada” em também desacelerar por aqui.
Inflação ao consumidor vs. taxa de Juro do Banco Central – %
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O Brasil já está bastante endividado – juros altos têm grande peso fiscal
A dívida do governo brasileira está entre as mais altas do mundo. Isso faz com que o custo fiscal da forte alta de juros no Brasil seja bastante elevado. A Dívida Pública Mobiliária no Brasil é de R$5,5 trilhões (dados de 2022), portanto cada 1% de elevação de juros no Brasil custa R$55 bilhões em pagamento de juros pelo governo, mais que todo o programa Bolsa Família. Isso indica que o Brasil poderá ter dificuldades de conviver com juros muito elevados por muito tempo, pelo alto custo que isso acarretará, impactando o potencial crescimento do país.
Dívida bruta como % do PIB – Países Emergentes
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CDI – o “maratonista incansável”
Olhando para os retornos dos últimos 5 anos do CDI, das taxas pré-fixadas, do índice IMA-B (retorno dos títulos indexados à inflação) e do Ibovespa, vemos que os retornos dos títulos atrelados à inflação foram muito próximos ao retorno da Bolsa. Isso mesmo considerando um período de juros baixos no Brasil. Além disso, a volatilidade do IMA-B também foi bastante inferior à volatilidade da Bolsa.
Além disso, apesar dos baixos retornos dos títulos pré-fixados nos últimos 2 anos, em um período mais longo, eles ainda tiveram um retorno superior ao CDI.
Os gestores gostam de comparar o CDI à um maratonista incansável, que está sempre gerando resultados, todos os dias. Dito isso, os últimos anos marcaram um período de juros baixos no Brasil, onde a média do CDI foi de 5,8% ao ano. Olhando para 2022 e os próximos anos, vemos um cenário diferente, onde o CDI volta a ter retornos de dois dígitos ao ano, aumentando a atratividade da renda fixa relativo à outros investimentos.
Retornos da Renda Fixa e Ibovespa nos últimos 5 anos
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Razões para se ter mais caixa (pós fixados) que o normal
Acreditamos que no cenário atual, ter caixa é uma boa opção. Além da reserva de emergência, que é essencial para todos investidores, o caixa investido em títulos pós fixados de baixo risco traz alguns benefícios no cenário atual:
- O mercado global enfrenta uma grande volatilidade em 2022, com fortes quedas nas Bolsas globais e nos ativos de risco (como as criptomoedas). Ter caixa nesse cenário traz a possibilidade de investir a preços mais atrativos em outras classes de ativos.
- O risco de recessão está aumentando no mundo, por conta da alta de juros no mundo e dos desarranjos provocados pelos conflitos geopolíticos e pela política “zero-covid” na China. Os investimentos na renda fixa pós ficada também ajudam a reduzir o risco da sua carteira.
- Por último, o custo de oportunidade do dinheiro no Brasil voltou a ficar elevado, dado que o CDI voltou para quase 13% ao ano. Dessa forma, diferente do restante do mundo, o caixa no Brasil já traz um retorno alto, com baixo risco.
Razões para se investir em títulos de renda fixa mais longos
Para a porção da carteira na Renda Fixa com maior risco – como os títulos pré-fixados e os atrelados à inflação – acreditamos o investidor deva optar por títulos com uma duração maior que a de apenas 1-2 anos de prazo.
Preferimos os títulos atrelados à inflação (como as NTN-Bs) ao invés dos títulos pré-fixados, idealmente com um período em torno de 5-7 anos de duração. Isso porque:
- Os títulos pré fixados correm um risco maior de qual será a inflação e a trajetória de juros nos próximos anos. Portanto, eles podem trazer perdas ao investidor caso as taxas de juros sigam aumentando.
- Os títulos indexados à inflação mais longos reduzem o risco de reinvestimento do investidor – ou seja, caso as taxas não permaneçam no patamar elevado que elas se encontram hoje, o investidor que optar por um título de curto prazo poderá ter que reinvestir a uma taxa menor.
- Os títulos com um prazo mais longos maximizam os benefícios do carrego – ou seja, os benefícios dos juros compostos. Isso porque o investidor terá aquele retorno (por exemplo IPCA +6% ao ano) todos os anos e sem o pagamento de impostos durante o prazo do título, e apenas no vencimento do título.
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Veja as alocações sugeridas pela nossa equipe de alocação
Em conclusão, vemos uma série de oportunidades nos ativos de renda fixa no Brasil hoje, pois acreditamos que o ciclo de alta de juros no Brasil pode já estar se aproximando do final, como mostramos acima. A nossa equipe de alocação publica carteiras recomendadas para 7 perfis de risco distintos todos os meses.
Para o perfil de risco moderado, nossa equipe sugere 50% de alocação total em ativos de renda fixa (pós, pré, inflação e global). Já para o perfil agressivo, a alocação sugerida em renda fixa é de 29%.
Carteira Estrategista (Moderado) – Junho 2022
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A tabela abaixo traz as alocações sugeridas para os ativos de renda fixa para os 7 diferentes perfis de risco.
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Fonte: conteudos.xpi
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