Autor: Camilla Dolle (Head de Renda Fixa)

02/05/2022 17:53:21 • Atualizado em 02/05/2022 17:58:21

Nos dias 3 e 4 de maio, ocorrerão as próximas reuniões do Copom. A expectativa é de nova elevação da taxa de juros. O que isso significa para a renda fixa?

  • Nos dias 3 e 4 de maio, ocorrerá a próxima reunião do Copom.
  • Vemos dois cenários como mais prováveis:
    1. Cenário-base: Elevação de 1,0 ponto percentual (pp), com comunicado mais aberto para a próxima reunião.
    2. Cenário alternativo: Elevação de 1,0 pp, porém já sinalizando o que esperar para junho.

Nesta semana, nos dias 3 e 4 de maio, ocorrerá a próxima reunião do Copom em 2022. Para a decisão, a grande maioria do mercado, aguarda um aumento de 1,0 pp, o que elevaria a Selic a 12,75%. Nossos economistas da XP enxergam este mesmo cenário base:

A análise de dados desde o último Copom não aponta alívio para a dinâmica de preços. A inflação continua em nível alto, as projeções para 2022 e 2023 aumentaram e o ambiente global se deteriorou. Nossas simulações replicando o modelo do Copom sugerem alta da projeção do IPCA para 2022 de 7,1% para 7,8%, e estabilidade em 3,4% para 2023 em relação à reunião de março; Esperamos alta de 1,0pp na taxa Selic nesta reunião. Como o cenário de inflação continua pressionado e incerto, entendemos que o Copom optará por deixar a porta aberta para um possível reajuste adicional em junho.

A comparação entre as expectativas do mercado nas vésperas do Copom de março e agora ajudam a entender o cenário:

Indicador Expectativas na semana do último Copom (março) Expectativas atuais
DI Jan/23 ~13,3% ~13,1%
DI Jan/27 ~12,5% ~12,0%
Câmbio (R$/US$) 2022 (Focus – Mediana) 5,30 5,00
Câmbio (R$/US$) 2023 (Focus – Mediana) 5,20 5,04
IPCA 2022 (Focus – Mediana) 6,45% 7,89%
IPCA 2023 (Focus – Mediana) 3,70% 4,10%
Selic 2022 (Focus – Mediana) 12,75% 13,25%
Selic 2023 (Focus – Mediana) 8,75% 9,25%
Fontes: Anbima e Banco Central (Boletim Focus). Elaboração: XP.

O que esperar para a renda fixa?

Além de precisarmos acompanhar qual será a decisão do Copom sobre a taxa Selic, é necessário nos atentarmos ao comunicado sobre os planos do BC para a política monetária, que guiarão as expectativas para os juros nos próximos meses.

Com base nisso, o que o Copom dirá desta vez? Enxergamos alguns cenários como prováveis:

Cenário 1: +1,0 pp com comunicado aberto

Cenário base: Esperamos elevação de 1,0pp na taxa Selic nesta reunião. Como o cenário para a inflação segue desafiador, entendemos que o Copom optará por deixar a porta aberta para um ajuste adicional em junho.

O Copom vem sinalizando que a taxa Selic em 12,75% é suficiente para trazer a inflação para a meta no horizonte relevante. Porém, a dinâmica desfavorável de inflação, que deve continuar em junho, poderá fazer o comitê mudar de ideia. Assim, após a alta de 1pp esta semana, acreditamos que o Copom poderá entregar uma última alta de 1pp na reunião seguinte, levando a Selic para 13,75%.

Para a reunião de junho, o mercado tem hoje as seguintes expectativas (tendo como base Selic de 12,75% na reunião atual):

Expectativa – Copom Junho Probabilidade
Elevação para 13,25% (+0,5pp) ~40-42%
Manutenção em 12,75% ~29-31%
Elevação para 13,75% (+1,0pp) ~13-15%
Fonte: B3 (Opções de Copom). Elaboração: XP.

Ou seja, o cenário está ainda dividido em relação a qual será a indicação do Banco Central à frente. Se o nosso cenário base se concretizar (BC deixando em aberto o que fará em junho), acreditamos que a interpretação do mercado será no sentido de acreditar em nova elevação na próxima reunião. Com isso, as taxas curtas de juros deverão se elevar em cerca de 0,2p.p.

 

Quais ativos vão melhor neste cenário?

Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos curtos: desvalorização
Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos longos: valorização

Em caso de concretização deste cenário, os títulos prefixados e indexados ao IPCA de prazos mais curtos apresentariam desvalorização, criando eventuais oportunidades para investidores que buscam esses indexadores e prazos para composição de carteira.

No caso de valorização dos títulos de vencimentos longos, principalmente prefixados e IPCA+, haveria a possibilidade de ganhos de capital para aqueles investidores que já detivessem os ativos. Vale, no entanto, ressaltar a importância de ter cautela e se atentar ao seu perfil de investidor e alternativas de alocação ao tomar a decisão.

Cenário 2: +1,0pp com sinalização de final de ciclo (dovish)

Elevação da taxa Selic em 1,0 pp, para 12,75%, porém com comunicação que sinalize que o BC acredita que este é o final do ciclo de altas na taxa básica de juros.

Este cenário estaria mais alinhado às indicações que já foram dadas pelo presidente do BC em ocasiões recentes, embora não seja nosso cenário base, uma vez que as condições globais e pressões inflacionárias vem piorando.

Sob este cenário, haveria potencial de inclinação na curva de juros, com as taxas de curto prazo reduzindo em cerca de 0,4p.p., para se adequarem à indicação de manutenção de juros para a próxima reunião. (e não de alta, como parte do mercado espera).

Em ambos os cenários, os ativos pós-fixados se mantêm como os mais conservadores do mercado e se beneficiam da alta na Selic, uma vez que sua remuneração acompanha a taxa básica de juros.

Exemplos de investimentos

Curto prazo (Pré e IPCA+): No caso de títulos públicos, há as LTNs e NTN-Fs com vencimento até 2024 e NTN-Bs com vencimentos até 2026. Estes títulos são prefixados e indexados à inflação, respectivamente. Nem todos estão disponíveis no Tesouro Direto, podendo ser acessados via mercado secundário.

Longo Prazo (Pré e IPCA+): Títulos com duration (prazo médio de vencimento) acima de 5 anos como por exemplo NTN-Bs que vencem a partir de 2028. É preciso ter cautela ao buscar ativos com prazos muito longos.

Há também títulos bancários e de crédito privado, que podem apresentar comportamento semelhante aos citados para títulos públicos.

Pós-fixados: Tesouro Selic, além de LFTs negociadas no mercado secundário e títulos bancários e de crédito privado com a mesma característica de acompanhar a taxa Selic. Vale notar, no entanto, que estes títulos podem sofrer oscilações, embora menores do que os prefixados e indexados à inflação. Para reduzir o risco de variações antes do vencimento, procure títulos de prazos mais curtos.

O que pode acontecer de diferente?

Tudo o que apresentamos aqui leva como base apenas a reunião do Copom dos dias 3 e 4 de maio, sua decisão e posterior comunicado. No entanto, devemos ter em mente que, além de os cenários analisados serem apenas expectativas (ainda que com base em observações anteriores), outras forças agem no mercado diariamente que muitas vezes fogem do radar.

Como exemplo, podemos citar movimentos nos mercados externos que podem ter efeito sobre a percepção de risco global e, consequentemente, local, como a escalada da guerra entre Rússia e Ucrânia e seus impactos, ou até mesmo acontecimentos no cenário político-econômico nacional que podem exaltar ou acalmar os ânimos dos agentes para além do que for decidido na reunião, assim como piora adicional na percepção do risco fiscal.

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Fonte: conteudos.xpi


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