Autor: Jennie Li (Estrategista de Ações), Pietra Guerra (Analista Internacional) e Rafael Nobre (Analista Internacional).

19/04/2022 00:08:22 • Atualizado em 19/04/2022 08:28:31

China, um mercado maior do que se vê. Conheça as diferenças do mercado de ações chinês e entenda como investir no crescimento doméstico do país.

  • A China é um destino importante para os investidores do mundo todo dada a relevância do país no globo.
  • Frente a relevância que o mercado de ações chinês ganhou no cenário global, é necessário entender algumas particularidades que a região carrega. O mercado acionário do país é dividido entre mercados onshore e offshore. O primeiro é formado pelas bolsas de Shanghai e Shenzhen, e direcionado para investidores chineses, tendo como principal índice o CSI 300. Já o mercado offshore é destinado ao investidor estrangeiro e representa as ações negociadas na bolsa de Hong Kong. Seu principal índice é o Hang Seng, que tem como ações com maior peso as grandes companhias de tecnologia chinesas.
  • Destacamos três principais pontos que reforçam a importância do país como alternativa para a carteira do investidor brasileiro que busca expandir o potencial de valorização do seu portfólio através da diversificação internacional: 1) crescimento econômico dos próximos anos, potencializado pelo momento de estímulos financiados pelo governo; 2) a ascensão da classe média, com a transição para uma economia menos dependente de exportações e investimentos em infraestrutura, mas também baseada no consumo interno; e 3) o mercado de ações doméstico ser menos correlacionado com as bolsas globais.
  • Enquanto que no curto prazo ainda existem desafios, reforçamos a nossa visão positiva de longo prazo para a China e entendemos que ter exposição ao mercado doméstico, por meio do CSI 300, pode ser uma boa oportunidade nesse cenário.

China, muito grande para ser ignorada

A China é um destaque global pela sua própria natureza, sendo o 3º maior território do planeta, atrás apenas da Rússia e do Canadá, com 1,4 bilhão de habitantes, ocupa o 1º lugar no ranking populacional. Para se ter uma ideia, há quase 2x mais pessoas na China do que no continente europeu, e 4x mais do que nos EUA. Dada a sua relevância, o país é capaz de mexer ponteiros nos números globais e não pode ser ignorado. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional, a China será o país com maior contribuição no crescimento global até 2026, representando quase 20% da expansão do PIB (Produto Interno Bruto) mundial nos próximos anos.

Hoje, a China ainda é classificada como emergente, mas com um mercado promissor e forte crescimento econômico, há a expectativa que o país se torne a maior economia do globo até o final da década. O gigante asiático tem investido agressivamente para tornar-se a maior superpotência global, buscando ultrapassar a hegemonia tecnológica e geopolítica dos EUA.

Caminhando nessa direção, a economia chinesa passa por um momento de transição. O país está deixando de ser dependente de exportações e investimentos em infraestrutura, para se tornar uma economia também baseada no consumo interno. Aproximadamente meio bilhão de chineses devem ingressar na classe média no mesmo período, e esse crescimento acelerado da classe média chinesa apresenta uma série de novas oportunidades econômicas: à medida que a receita disponível das famílias cresce, o potencial de consumo e formação de poupança do país também aceleram.

Combinado com esse movimento de transição, a disputa pela hegemonia global versus os EUA continua sendo um dos principais pilares da administração Xi Jinping, atual presidente da China. Com isso, o país tem se destacado como polo tecnológico, juntamente com os Estados Unidos, como um dos principais berços de unicórnios do mundo, chamando a atenção dos investidores.

Olhando sob a ótica dos investimentos, a grande quantidade de ações de crescimento, ligadas ao setor de tecnologia, pesou no desempenho de índices chineses recentemente. Além do ciclo de aperto monetário, com aumento das taxas de juros globais que pressiona especialmente as ações tech, o setor tem sofrido com o risco regulatório de intervenção do governo chinês. Desde o final de 2020, o setor passou por diversas investigações contra práticas anticompetitivas por parte das autoridades, além de terem sofrido multas e novas regulações. Com o aumento regulatório no país, elevou-se a percepção de risco, levando a fortes correções nos preços das ações de tecnologia chinesas.

Recentemente, as autoridades chinesas sinalizaram uma mudança importante, indicando que deve adotar medidas mais transparentes e previsíveis, depois de quase um ano e meio que o setor vem lidando com uma forte pressão regulatória. Apesar dessa sinalização positiva, ainda há incertezas sobre medidas práticas a serem tomadas. Entendemos que o setor ainda pode enfrentar volatilidade nos próximos meses, reforçando nosso olhar cauteloso sobre as ações de tecnologia chinesa no curto prazo até termos maior visibilidade sobre o cenário regulatório que encontrarão à frente.

Expandindo o horizonte de tempo, reforçamos a nossa visão positiva de longo prazo, baseada em fundamentos estruturalmente sólidos, como 1) a China sendo o motor do crescimento global dos próximos anos; 2) a ascensão da classe média, e o consequente aumento do consumo; 3) a disputa pela hegemonia tecnológica com os EUA. Para saber mais detalhes sobre a nossa visão de longo prazo de China, além da perspectiva de outros gestores, veja o nosso Ebook China: O Ano do Tigre.

Quando colocamos sob a mesma ótima os desafios de curto prazo e os sólidos fundamentos para horizontes mais longo, abre espaço para oportunidades de investimentos no mercado chinês. Entretanto, para identificar onde está esse potencial, é preciso entender as particularidades do mercado de ações da região.

Desbravando o mercado de ações da China

Nos últimos 10 anos, o mercado de ações chinês quase quadruplicou de tamanho em termos de capitalização, enquanto o mercado de títulos de dívida multiplicou por 7x. Hoje, ambos são, em suas respectivas categorias, o 2º maior mercado do mundo.

Frente a relevância que o mercado de ações chinês ganhou no cenário global, algumas particularidades que a região carrega de herança da época que a China era uma economia fechada ficam evidentes. Vale lembrar que a abertura economica do país aconteceu só em 1976. O mercado acionário do país é formado por 3 principais bolsas e dividido entre onshore e offshore. Esses mercados existem de forma independente:

  • Mercado onshore: destinado ao investidor residente da China, formado pelas bolsas de Shanghai e Shenzhen. Pelo próprio perfil de investidor local, são listadas nessas bolsas empresas ligadas a economia local, chamadas de A-shares. Dessa forma, o mercado onshore é mais relacionado a atividade doméstica, refletindo a economia real do país.
  • Mercado offshore: destinado ao investidor estrangeiro, é negociado na bolsa de valores de Hong Kong. A maior parte das empresas chinesas com atuação internacional listam suas ações nesse mercado, para acessar o investidor de fora da China.

As companhias chinesas mais conhecidas no ocidente, incluindo as gigantes de tecnologia que sofreram recentemente com regulação e aperto monetário, normalmente são listadas em Hong Kong.

Durante muito tempo, a divisão entre as bolsas restringia que investidores locais acessassem o mercado offshore, e que os estrangeiros investissem nas bolsas onshore. Foi assim até 2014, quando criaram o Stock Connect, uma “ligação” entre os mercados da China, que permite investidores chineses negociarem ações de Hong Kong e estrangeiros comprarem ações listadas no continente. Mas, essa é uma mudança recente, de maneira geral as bolsas têm composições diferentes como herança da formação do mercado.

Frente a diferença na composição das bolsas, os índices da China também refletem realidades distintas da economia do país:

  • CSI 300: compostos pelas 300 maiores A-shares, acompanha o mercado doméstico, com maior peso para setores locais, como o Financeiro (23%), Indústria (20%) e Consumo Básico (14%).
  • Hang Seng: formado pelas maiores e mais líquidas ações listadas na bolsa de Hong Kong, é atrelado ao mercado offshore, com o setor Financeiro (38%), Tecnologia (26%) e Consumo Discricionário (9%) como as maiores indústrias. Entre as ações de maior peso do índice estão o HSBC (H1SB34), Tencent (TCEHY) e Alibaba (BABA34).
  • MSCI China: com 742 constituintes, cobre 85% do universo de ações chinesas e conta com uma composição híbrida, formado pelos mercados onshore e offshore, mas com maior peso para o mercado offshore. As A-shares representam aproximadamente só 20% do índice, e os setores de maior representatividade são Consumo Discricionário (28%) e Serviços de Comunicação (18%). Nomes de grandes empresas globais como Tencent e Alibaba também aparecem nesse índice.

Outro ponto relevante da diferença das bolsas é o tamanho, o mercado onshore (Shanghai + Shenzen) é praticamente o dobro de Hong Kong em valor de mercado e em número de ativos negociados. Um mercado maior, composto por mais ações e que a exposição máxima por setor gira em torno de 20%, tende a ser mais diversificado e consequentemente mais resiliente, quando comparado com o mercado offshore.

CSI 300: Por que investir no mercado doméstico chinês?

A China é um destino importante para os investidores do mundo todo dada a relevância do país no globo. Seja pela ascensão do maior volume populacional, como pela expansão economica, é importante ter exposição ao país que caminha para tornar-se a maior superpotência global. Ainda não é óbvio dizer que a China atingirá o seu objetivo na próxima década, mas ela tem dado passos claros nessa direção.

Em sua Assembleia Popular Nacional no início de março, o governo chinês anunciou uma meta de PIB de 5,5% para este ano, o que exigiria uma retomada do crescimento depois de uma desaceleração ao final de 2021. Analisando os potenciais riscos, reconhecemos que a pandemia continua sendo um desafio depois dos dado mistos do primeiro trimestre de 2021, período que a economia cresceu 4,8% na comparação anual. Logo, serão necessárias medidas de estímulo mais fortes, o que pode funcionar como um catalisador para a recuperação dos mercados de ações. Nesse cenário expansionista, regado a estímulos, forma-se uma conjuntura econômica favorável para o mercado doméstico, representado pelo índice CSI 300.

Adicionalmente, o mercado onshore tem baixa correlação com os mercados globais e é mais protegido das regulações em empresas de tecnologia, justamente por sua composição focada em ações ligadas a atividade da região. O CSI 300 aparece como um índice mais resiliente mesmo quando comparado com os outros índices do país.

Em suma, entendemos que o mercado doméstico da China é uma alternativa de investimento interessante para a carteira do investidor brasileiro que busca expandir o potencial de valorização do seu portfólio através da diversificação internacional. Enquanto no curto prazo ainda existem desafios e incertezas a serem endereçados, reforçamos nossa visão positiva de longo prazo para as ações chinesas.

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Fonte: conteudos.xpi


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