Autor: Camilla Dolle (Head de Renda Fixa) e Marcelo Freller, CGA (Estrategista Macro)

14/03/2022 18:31:50 • Atualizado em 15/03/2022 11:02:16

Nos dias 15 e 16 de março, ocorrerá a próxima reunião do Copom. A expectativa é de nova elevação da taxa de juros. O que isso significa para a renda fixa?

  • Nos dias 15 e 16 de março, ocorrerá a próxima reunião do Copom.
  • Vemos dois cenários como mais prováveis:
    1. Cenário-base: Elevação de 1,0 ponto percentual (pp), com comunicado mais aberto para as próximas reuniões.
    2. Cenário alternativo: Elevação de 1,0 pp, porém já sinalizando nova alta de 1,0pp na próxima reunião.
  • Caso o cenário-base se concretize, acreditamos que a curva possa fechar (queda nas expectativas de juros) nos vencimentos curtos, dado que parte do mercado ainda acredita em elevação acima de 1,0pp, precisando realizar um ajuste neste caso.
  • No cenário alternativo, acreditamos que o mercado possa reagir elevando suas expectativas de elevações nas próximas reuniões, com menor impacto sobre os vencimentos mais longos.

Nesta semana, nos dias 15 e 16 de março, ocorrerá a segunda reunião do Copom em 2022. Para a decisão, a grande maioria do mercado, incluindo os economistas da XP, aguarda um aumento de 1,0 pp, o que elevaria a Selic a 11,75%.

Existem ferramentas no mercado que precificam essas expectativas dos agentes. Como exemplo, às 13h do dia 14/03, as “apostas” nas Digitais de Copom se davam como segue. Ou seja, há uma probabilidade, na visão do mercado, entre 68% e 70% de que a Selic seja elevada em 1,0 pp reunião do Copom desta semana.

Expectativa Probabilidade
Elevação para 11,75% (+1,0pp) ~68-70%
Elevação para 12,0% (+1,25pp) ~18-22%
Elevação para 12,25% (+1,5pp) ~9-12%
Fonte: B3 (Opções de Copom). Elaboração: XP.

Nossos economistas da XP enxergam este mesmo cenário base:

A análise dos dados desde o último Copom aponta para uma pior perspectiva de inflação, por conta da alta de preços de commodities, inflação corrente elevada e atividade econômica levemente melhor que o esperado. A menor pressão no câmbio alivia parcialmente o quadro;

Nossas simulações replicando o modelo do Copom sugerem elevação da projeção para o IPCA de 2022 de 5,2% para 6,4%, e de 2023 de 3,2% para 3,4%;

Esperamos elevação de 1,0pp na taxa Selic nesta reunião. Para frente, considerando a incerteza gerada pela guerra da Ucrânia e o aperto monetário já implementado, acreditamos que seria prudente o Copom deixar as portas abertas para a próxima reunião ao invés de sinalizar outra alta de mesma magnitude.

A comparação entre as expectativas do mercado nas vésperas do Copom de dezembro e agora ajudam a entender o cenário:

Indicador Expectativas na semana do último Copom (fevereiro) Expectativas atuais
DI Jan/23 12,3% ~13,3%
DI Jan/27 11,2% ~12,5%
Câmbio (R$/US$) 2022 (Focus – Mediana) 5,60 5,30
Câmbio (R$/US$) 2023 (Focus – Mediana) 5,50 5,20
IPCA 2022 (Focus – Mediana) 5,38% 6,45%
IPCA 2023 (Focus – Mediana) 3,50% 3,70%
Selic 2022 (Focus – Mediana) 11,75% 12,75%
Selic 2023 (Focus – Mediana) 8,0% 8,75%
Fontes: Anbima e Banco Central (Boletim Focus). Elaboração: XP.

O que esperar para a renda fixa?

Além de precisarmos acompanhar qual será a decisão do Copom em relação à elevação da taxa Selic, é necessário nos atentarmos ao comunicado sobre os planos do BC para próximos passos da política monetária, que guiarão as expectativas para os juros nos próximos meses.

Com base nisso, o que o Copom dirá desta vez? Acreditamos que sejam dois os cenários mais prováveis:

Cenário 1: +1,0 pp com comunicado aberto

Cenário base: Esperamos elevação de 1,0pp na taxa Selic nesta reunião. Para frente, considerando a incerteza gerada pela guerra da Ucrânia e o aperto monetário já implementado, acreditamos que seria prudente o Copom deixar as portas abertas para a próxima reunião ao invés de sinalizar outra alta de mesma magnitude.

Com cenário de maio ainda indefinido, o mercado pode fazer a leitura de que o Banco Central gostaria de continuar reduzindo o ritmo de altas, elevando 0,75pp em maio, terminando o ciclo em torno de 12,75% a 13,0%.

Isso faria com que a curva curta fechasse cerca de 0,20pp em um primeiro momento(ou seja, as expectativas de curto prazo para os juros reduziriam em 0,20 ponto percentual), podendo continuar a cair gradualmente nos dias subsequentes para se adequarem à perspectiva de juros de 13% (hoje está em 14%).

Os juros com vencimentos mais longos podem abrir (se elevar) neste cenário, com mercado acreditando que o Banco Central ficou “atrás da curva”, necessitando, portanto, de novas elevações no futuro para compensar o que não foi realizado nesta reunião.

Quais ativos vão melhor neste cenário?

Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos curtos: valorização
Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos longos: desvalorização

Em caso de concretização deste cenário, os títulos prefixados e indexados ao IPCA de prazos mais curtos apresentariam valorização. Ou seja, abriria a possibilidade de ganhos de capital para aqueles investidores que já detivessem os ativos.

No caso de desvalorização dos títulos de vencimentos longos, principalmente prefixados e IPCA+, oportunidades podem aparecer para investidores que buscam esses indexadores e prazos para composição de carteira. Vale, no entanto, ressaltar a importância de ter cautela e se atentar ao seu perfil de investidor ao tomar a decisão.

Cenário 2: +1,0pp com sinalização de mais 1,0pp em maio

Elevação da taxa Selic em 1,0 pp, para 11,75%, porém com comunicação que indique abertamente que uma nova elevação de mesma magnitude em maio.

Com o Banco Central já dizendo que a Selic irá para 12,75% na reunião de maio, o mercado pode estender um pouco a precificação atual de fim de ciclo, que hoje está em 14%, para 14,25%.

Acreditamos que caso o “Cenário 2” se concretize, a curva de juros de curto prazo poderia abrir (expectativas mais altas) em cerca de 0,10 pp. Já a parte longa da curva teria menos potencial de se movimentar.

Em ambos os cenários, os ativos pós-fixados se mantêm como os mais conservadores do mercado e se beneficiam da alta na Selic, uma vez que sua remuneração acompanha a taxa básica de juros.

Exemplos de investimentos

Curto prazo (Pré e IPCA+): No caso de títulos públicos, há as LTNs e NTN-Fs com vencimento em 2022 a 2024 e NTN-Bs com vencimentos até 2026. Estes títulos são prefixados e indexados à inflação, respectivamente. Nem todos estão disponíveis no Tesouro Direto, podendo ser acessados via mercado secundário.

Longo Prazo (Pré e IPCA+): Títulos com duration (prazo médio de vencimento) acima de 5 anos como por exemplo NTN-Bs que vencem por volta de 2028.

Há também títulos bancários e de crédito privado, que podem apresentar comportamento semelhante aos citados para títulos públicos.

Pós-fixados: Tesouro Selic 2025, Tesouro Selic 2027, além de LFTs negociadas no mercado secundário e títulos bancários e de crédito privado com a mesma característica de acompanhar a taxa Selic. Vale notar, no entanto, que estes títulos podem sofrer oscilações, embora menores do que os prefixados e indexados à inflação. Para reduzir o risco de variações antes do vencimento, procure títulos de prazos mais curtos.

O que pode acontecer de diferente?

Tudo o que apresentamos aqui leva como base apenas a reunião do Copom dos dias 15 e 16 de março, sua decisão e posterior comunicado. No entanto, devemos ter em mente que, além de os cenários analisados serem apenas expectativas (ainda que com base em observações anteriores), outras forças agem no mercado diariamente que muitas vezes fogem do radar.

Como exemplo, podemos citar movimentos nos mercados externos que podem ter efeito sobre a percepção de risco global e, consequentemente, local, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, ou até mesmo acontecimentos no cenário político-econômico nacional que podem exaltar ou acalmar os ânimos dos agentes para além do que for decidido na reunião, assim como piora adicional na percepção do risco fiscal.

Tendo isso em mente, é importante sempre acompanhar as principais movimentações e análises de mercado para ajudar na melhor tomada de decisão, além de sempre considerar seu perfil de investidor(a) para melhor estratégia de composição de carteira.

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Fonte: conteudos.xpi


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