Autor: Maria Jordão (Analista de Macroeconomia) e Rodolfo Margato (Economista da XP)
21/11/2022 15:53:51 • Atualizado em 21/11/2022 16:13:48
A atividade econômica apresentou sinais mistos em setembro. Se por um lado o setor de serviços manteve o papel protagonista e o varejo surpreendeu positivamente, a produção industrial encolheu e a recuperação do mercado trabalho perdeu velocidade. A política monetária local contracionista e a deterioração do cenário global, com riscos crescentes de recessão, parecem ter refletido na piora dos índices de confiança de empresários e consumidores em outubro, conforme exibido no gráfico a seguir.
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) – proxy mensal do PIB – subiu 0,05% entre agosto e setembro, após ajuste sazonal. Em comparação a setembro de 2021, o IBC-Br registrou expansão de 4,0%. Com isso, o indicador avançou 1,4% no 3º trimestre ante o 2º trimestre de 2022 (elevação de 4,3% versus o 2º trimestre de 2021), o quarto aumento trimestral consecutivo.
No entanto, essa alta acentuada do IBC-Br deve ser interpretada com cautela, pois não significa necessariamente que o PIB total tenha crescido na mesma magnitude (ou mesmo a um ritmo muito próximo) no trimestre passado. No 2º trimestre deste ano, por exemplo, o IBC-Br aumentou 0,7% ante o 1º trimestre, enquanto o PIB total registrou incremento de 1,2%. O Tracker XP para o PIB do 3º trimestre indica elevação de 0,6% versus o 2º trimestre de 2022 (expansão de 3,6% versus o 3º trimestre de 2021), com base em estimativas desagregadas. Projetamos que a economia brasileira crescerá 2,8% em 2022.
Mercado de trabalho
O mercado de trabalho melhorou adicionalmente em setembro, apesar do menor ritmo de expansão do emprego. A taxa de desocupação recuou de 8,9% no trimestre móvel encerrado em agosto para 8,7% no 3º trimestre, segundo dados da PNAD Contínua do IBGE. Considerando a estimativa mensalizada e dessazonalizada (método próprio), o indicador permaneceu em 8,5% em setembro, o menor patamar desde o início de 2015 e cerca de 3pp abaixo dos resultados vistos imediatamente antes da pandemia.
A população ocupada total cresceu 0,2% entre agosto e setembro, chegando a 99,4 milhões. Enquanto isso, a População Economicamente Ativa (PEA), que representa a força de trabalho, ficou praticamente estável no período (totalizando 108,7 milhões). Com isso, a população ocupada e a força de trabalho situaram-se, em setembro deste ano, 4,7% e 1,3% acima dos patamares registrados antes da eclosão da crise da Covid-19, respectivamente.
As categorias de emprego informal recuaram 0,2% em setembro ante agosto, encerrando uma série de sete avanços consecutivos. Estimamos que a população empregada sem carteira assinada totalizou 42,5 milhões, contra cerca de 40,7 milhões no início de 2020. Por sua vez, o nível de emprego formal aumentou 0,4% na base de comparação mensal. Os empregos formais somaram 56,9 milhões, incremento de 2,8 milhões em relação ao início de 2020.
O rendimento real médio saltou 1,3% entre agosto e setembro, o quinto ganho mensal consecutivo. Isto posto, o indicador ainda está rodando cerca de 4% abaixo dos níveis registrados antes da crise do coronavírus. O mercado de trabalho apertado e o alívio na inflação de curto prazo ajudam a explicar essa tendência ascendente. Por sua vez, a massa de rendimento real – combina rendimento médio com população ocupada – cresceu 1,5% em termos mensais. A variável situa-se cerca de 2% acima dos níveis observados antes da crise.
Serviços
As receitas reais do setor de serviços cresceram 0,9% entre agosto e setembro, após ajuste sazonal. Com isso, o setor terciário cresceu 3,2% no 3º trimestre ante o 2º trimestre de 2022, o nono ganho trimestral seguido. Os resultados desagregados da Pesquisa Mensal do Serviços emitiram sinais mistos, já que três entre os cinco grupos pesquisados pelo IBGE avançaram na comparação mensal, com destaque para o grupo de Serviços Prestados às Famílias, que teve a sétima variação mensal consecutiva, impulsionado pelo aumento da renda disponível e ainda com benefícios da reabertura econômica. Em comparação a setembro de 2021, o faturamento real saltou 9,7%. O índice geral do setor de serviços situa-se cerca de 12% acima do nível pré-pandemia.
Em linhas gerais, o setor de serviços deverá permanecer em trajetória positiva nos próximos meses. O aumento da massa de renda real disponível às famílias representa um fator explicativo relevante a sustentar tal cenário. Isto posto, o grau de incerteza a respeito da dinâmica da atividade doméstica em 2023 está elevado, sobretudo devido às dúvidas sobre a condução da política fiscal -magnitude das despesas adicionais; potencial impacto de alterações no arcabouço fiscal sobre as condições financeiras; entre outros elementos.
Comércio Varejista
As vendas no comércio varejista surpreenderam positivamente e encerraram uma sequência de três quedas consecutivas. O índice ampliado -incluem automóveis e materiais de construção – subiu 1,5% entre agosto e setembro (e 1,0% na comparação entre set/22 e set/21). Por sua vez, as vendas no varejo restrito – excluem automóveis e materiais de construção – avançaram 1,1% na margem e 3,2% em relação ao mesmo mês do ano passado. No entanto, os resultados não foram suficientes para conter quedas no 3º trimestre de 2022: o varejo restrito caiu 1,1%, enquanto o conceito ampliado encolheu 1,2% frente ao trimestre imediatamente anterior.
As vendas varejistas também trouxeram sinais mistos, com destaque positivo para os bens mais ligados à renda (que tiveram alta de 2,1% no 3º trimestre). Já os bens mais ligados à dinâmica do crédito acumularam queda de 4,3% no último trimestre. A massa de renda real disponível às famílias deverá permanecer em patamares elevados nos próximos meses, tendo em vista a melhora do mercado de trabalho e estímulos fiscais observados neste semestre. Em resumo, projetamos virtual estagnação para o varejo ampliado no final deste ano, com diferenças importantes na abertura setorial.
Indústria
A produção industrial recuou 0,7% entre agosto e setembro, a segunda queda mensal consecutiva. Dessa forma, o setor encolheu 0,3% no 3º trimestre ante o 2º trimestre de 2022. Em comparação a setembro de 2021, o volume produzido na indústria avançou 0,4%. A atividade manufatureira está cerca de 1,5% abaixo dos níveis pré-pandemia.
Os resultados desagregados de setembro mostraram sinais negativos em todas as categorias econômicas. A produção de Bens de Consumo Semiduráveis e Não Duráveis contraiu 1,4% ante agosto, a segunda leitura negativa na margem. Deste modo, a categoria apresentou retração de 0,4% no 3º trimestre após sólida expansão na primeira metade de 2022. De forma semelhante, a produção de Bens Intermediários declinou 1,1% em setembro vs. agosto e 0,3% no 3º trimestre ante o 2º trimestre, após dois trimestres consecutivos de crescimento mais forte que o esperado. Já a categoria de Bens de Capital registrou alta de 1,4% no trimestre passado, apesar do recuo de 0,5% visto em setembro (o nível de produção corrente está cerca de 16% acima da marca pré-Covid). Por fim, a produção de Bens de Consumo Duráveis ficou praticamente estável na comparação mensal (-0,2% em set/ago) e cresceu 2,4% na comparação trimestral. Isto posto, a categoria exibe produção cerca de 16% abaixo dos níveis vistos antes da crise do coronavírus.
Acreditamos que a indústria total crescerá modestamente nos próximos meses, ainda puxada pelo avanço do consumo das famílias – apesar da perda de força no período recente – e pela normalização das cadeias globais de matérias-primas. Portanto, projetamos que a produção industrial ficará praticamente estável em 2022 (ligeiro ganho de 0,2% em relação a 2021).
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Fonte: conteudos.xpi
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