Autor: Camilla Dolle (Head de Renda Fixa), Mayara Rodrigues (Analista de Renda Fixa) e Natalia Moura (Analista de Renda Fixa)

20/10/2022 09:16:26 • Atualizado em 20/10/2022 12:27:46

  • Ao investir, a diversificação é um dos fatores mais importantes para uma carteira com boa rentabilidade no longo prazo.
  • Esta diversificação pode ser via diferentes indexadores, prazos, classes de ativos e, por que não, geografias.
  • A possibilidade de investir em bonds abre novas oportunidades aos investidores que buscam as características da renda fixa atreladas ao dólar e à dinâmica do mercado norte-americano.

Devido, principalmente, ao histórico de elevadas taxas de juros, o Brasil é um país em que os investimentos em renda fixa são muito populares.

Investir em renda fixa nada mais é do que emprestar dinheiro para “alguém” – chamado de “emissor” – que pode ser o governo, instituições financeiras ou empresas. Todos esses emissores necessitam de recursos para suas operações ou investimentos, e uma das formas disponíveis para captar esses montantes é via emissão de dívidas. Ao final, os investidores (neste caso também chamados de “credores”) recebem seu valor inicial investido somado dos juros contratados no momento da compra do título.

O que significa investir em renda fixa fora do Brasil?

Normalmente, quando se pensa em investir em renda fixa, o primeiro (e talvez único) pensamento é investir em títulos brasileiros. No entanto, quando expandimos os horizontes, há um mercado muito maior à disposição: são os bonds corporativos.

Bonds corporativos (ou “corporate bonds”) são títulos de renda fixa emitidos por empresas em moeda estrangeira e negociados no mercado externo, como nos EUA. Eles possuem condições predefinidas, como taxa de remuneração e prazo, e podem ser emitidos por uma ampla variedade de empresas de setores distintos. Ou seja, são comparáveis às debêntures que já conhecemos no mercado local.

Quais as diferenças entre o mercado local e o internacional?

Quase R$ 200 trilhões de títulos já emitidos

O mercado de renda fixa nos Estados Unidos, por exemplo, apresenta um grau de evolução significativamente maior do que o brasileiro. Para efeitos de comparação, o estoque combinado de títulos soberanos (emitidos pelo Tesouro americano) e corporativos somou US$ 22,6 trilhões (o equivalente a R$ 182,2 trilhões). No mesmo período, a combinação dos títulos soberanos e emitidos por empresas no Brasil somou R$ 6,3 trilhões.

Se formos considerar apenas o estoque de títulos corporativos, os chamados “corporate bonds“, o estoque de ativos no Brasil fechou o ano de 2021 em R$ 1 trilhão (cerca de 0,2% do mercado global). Já nos EUA, encerrou o mesmo período em US$ 10,1 trilhões (R$ 56,2 trilhões ou 12% do mercado global).

Volume de negociação diária também impressiona

Além do mercado norte americano ser consideravelmente maior em termos de títulos já emitidos, a negociação realizada por investidores no mercado secundário também é volumosa. A média diária de bonds corporativos negociados nos EUA em 2021 atingiu R$ 200 bilhões.

No mercado brasileiro, no entanto, apesar da tendência de crescimento, a média diária chegou a somente R$ 1,6 bilhão em 2021 (considerando-se debêntures, CRIs e CRAs), o que equivale a 0,8% do volume negociado no mercado norte americano.

A disparidade de tamanho impressiona, mas os números também indicam que existe grande potencial de crescimento do mercado de renda fixa corporativa no Brasil, se tomarmos como base o país norte-americano. Enquanto isso, a boa notícia é que é possível também aproveitar este mercado mais desenvolvido na hora de investir.

Vale notar que todos os bonds são marcados a mercado. Ou seja, é possível acompanhar diariamente na carteira de investimentos quais são as condições atuais dos nossos títulos em caso de necessidade de venda antecipada (antes do prazo de vencimento).

Empresas brasileiras também têm bonds

Apesar de bonds serem títulos em dólar, não são apenas empresas dos EUA que podem emiti-los. Na verdade, inclusive empresas brasileiras possuem títulos de renda fixa negociados também no mercado norte americano.

Os casos mais comuns são empresas exportadoras, cujas receitas – ou parte delas – são denominadas em dólares. Desta forma, conseguem uma proteção ao menos parcial contra a variação do câmbio sobre suas dívidas. Alguns exemplos de empresas brasileiras com bonds emitidos nos EUA são: Petrobras, Vale, Embraer, Klabin, dentre outras.

Há também empresas sem operações fora do Brasil que optam por emitir no mercado externo devido a eventuais condições de mercado mais favoráveis do que as encontradas no ambiente interno no momento da emissão. No entanto, vale ressaltar que em geral são empresas de boa qualidade de crédito, que encontrarão interesse de investidores internacionais em seus títulos – o que restringe o universo de emissores brasileiros com acesso à emissão de bonds.

Quais são os riscos de investir em bonds?

Como falado anteriormente, bonds nada mais são do que títulos de renda fixa, muito semelhantes àqueles que já conhecemos aqui no Brasil. Desta forma, os riscos também são os mesmos: risco de crédito, risco de mercado, risco de liquidez e risco de reinvestimento.

  • Risco de crédito: também conhecido como risco de “calote”, dependerá da qualidade de crédito da empresa emissora. É possível se informar sobre esta qualidade (e reduzir seus riscos) através dos ratings (leia mais na seção “Ratings” do presente relatório) e da leitura de relatórios de análise.
  • Risco de mercado: é o risco de oscilações no preço do título como resultado de variações nas condições de mercado. Quando o risco de mercado sobe (e, portanto, as taxas), o preço desvaloriza e vice-versa. Quanto mais longo o título, maior sua sensibilidade a essas oscilações.
  • Risco de liquidez: e refere à facilidade para negociações do título no mercado secundário, no qual um título com poucos compradores potenciais pode ser desvalorizado no momento de uma cotação de venda.
  • Risco de reinvestimento: trata-se do risco que o investidor corre ao escolher prazos menores do que o horizonte de tempo dos seus objetivos, podendo se deparar com condições de taxas piores no momento da reaplicação dos recursos que recebe quando ocorre o vencimento dos seus títulos.

Ao compararmos os dois mercados (brasileiro e norte americano), é possível concluir que o risco de liquidez é menor nos EUA, devido ao volume de negociação superior – conforme demonstrado. Afinal, quanto mais investidores negociam títulos entre si, maior a probabilidade de que uma venda de título antes do vencimento no mercado secundário seja bem-sucedida.

Já os riscos de crédito, mercado e reinvestimento são mais relacionados a características próprias de cada emissão, como seu indexador, prazo e emissor – assim como no Brasil.

Há também, para investidores brasileiros que investem em bonds, um risco adicional: o risco cambial. Afinal, os títulos são denominados em dólares e, a depender da variação da moeda em relação ao real, pode haver perdas ou ganhos adicionais em relação ao esperado. Por outro lado, pode ser visto como uma proteção da carteira de investimentos, por ser uma moeda forte.

Ratings – identificando o risco de crédito

Assim como no mercado brasileiro, títulos internacionais e seus emissores também podem ser avaliados através de ratings. O rating é uma nota que uma agência classificadora de risco de crédito atribui a um governo, uma empresa ou emissão.

As três principais agências globais de classificação de risco são: Fitch Ratings, Moody’s, e S&P Global Ratings. Todas baseiam suas análises em metodologias próprias, que são disponíveis ao público em geral.

O rating é dado em forma de letras, que compõem uma escala que vai de ‘AAA’ (mais alto) a ‘D’ (mais baixo). Apenas para referência, atualmente o rating soberano do Brasil é BB- na Fitch e S&P Global e Ba2 na Moody’s. Já o dos EUA é AAA na Fitch, Aaa na Moody’s e AA+ na S&P Global.

O rating mede a capacidade e disposição da emissora em questão de honrar com suas obrigações financeiras com os credores (investidores) em sua totalidade e na data esperada. Funciona assim: quanto maior o risco de não-pagamento (ou calote, também chamado de default), menor o rating e vice-versa.

High grade e high yield

De maneira geral, quando bonds possuem ratings abaixo do que é considerado “grau de investimento” – notas BB+/Ba1 ou abaixo – são chamados de “high yield“. Em português, o termo seria traduzido livremente para “alto rendimento”.

Devido à relação risco-retorno, é esperado que quanto mais baixo for um rating, mais alta seja a rentabilidade do título.

Portanto, ao escolher um título para investir, é preciso mais do que apenas se atentar à taxa oferecida. Rendimentos mais altos são indicativos de riscos mais elevados. Isto não é uma característica negativa por si só, mas deve estar adequada aos objetivos e perfil de investidor.

Vale notar, no entanto, que existe uma ampla gama de emissores de boa qualidade de crédito (e, portanto, ratings mais altos) no mercado de bonds, que podem ser interessantes para diferentes perfis de investidores ao compor uma carteira diversificada.

Quais são os impostos sobre bonds?

Os bonds não são isentos de impostos. Portanto, investidores que investem em renda fixa no exterior precisam recolher Imposto de Renda (IR) no Brasil. De acordo com a Receita Federal, os rendimentos gerados por aplicações em títulos fora do Brasil são considerados ganhos de capital (o que inclui os cupons de bonds).

A alíquota de imposto sobre esses ganhos dependerá do montante, seguindo a tabela progressiva:

  • Até R$ 5 milhões: 15%.
  • Entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões: 17,5%.
  • Entre R$ 10 milhões e R$ 30 milhões: 20%.
  • Acima de R$ 30 milhões: 22,5%.

O recolhimento de imposto deve ser feito pelo próprio investidor (ou seja, não é feito na fonte como outros investimentos em renda fixa), através do preenchimento do Documento de Arrecadação de Receitas Federais (DARF).

Por que escolher um bond e não uma debênture?

Ao se deparar com um mercado cada vez mais completo em termos de opções para investir, os investidores podem ter dúvidas do que escolher. Neste momento, sempre vale lembrar da importância da diversificação e de acompanhar recomendações de especialistas em relação à proporção ideal de classes de ativos na composição da carteira.

Dito isto, há alguns fatores positivos em relação a investimentos em bonds que podem ser levados em consideração.

A renda fixa internacional é emitida em dólar e, assim, possibilita uma proteção àquela parcela da carteira a partir de uma moeda forte. Além disso, por ser emitida levando-se em consideração as condições de mercado nos EUA, têm como base de remuneração os juros norte americanos e, assim, sua rentabilidade acompanha a taxa de juros americana. Outro ponto é a diversidade de emissores no mercado internacional, que é muito grande e envolve nomes de diversos países, o que permite encontrar títulos adequados a diferentes objetivos em termos de prazo e risco.

Quando pensamos apenas em emissores que possuem títulos tanto no mercado brasileiro quanto no norte americano, há um fator interessante: empresas que são consideradas como risco muito baixo no Brasil são, muitas vezes, vistas como “high yield” (veja mais na seção “High grade e high yield“) no mercado externo – afinal, somos um mercado emergente. Sendo assim, em determinadas situações, uma mesma empresa pode apresentar taxas de bonds mais mais atrativas do que as de suas debêntures.

Ao final, ambos possuem vantagens e riscos. O mais importante é sempre considerar seu perfil de investidor(a) e objetivos. E lembrar que o ideal é possuir uma carteira diversificada, que pode contar com diferentes tipos de ativos.

Confira também nosso artigo sobre Meta é oportunidade ou “armadilha”?

Fonte: conteudos.xpi


0 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *